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Prêmio Nobel

By 17 de maio de 2012 Sem comentários

16 de maio – Opinião – Texto de André Luis Viegas – Coordenador da Mostratec 2012

“Curiosidade e paixão.” Assim a cientista PhD Ada Yonath, laureada em 2009 com o Prêmio Nobel de Química, destacou as características necessárias a alguém que queira se destacar na ciência.

Curiosidade e paixão. Tenho ouvido bastante isso nos últimos dias. Ouvi também: persistência, confiança, trabalho… Tendo o privilégio de acompanhar a delegação brasileira na Intel ISEF, conversando com os jovens cientistas, por coincidência fiz a mesma pergunta que foi feita aos prêmios Nobel presentes na tarde deste 15 de maio em Pittsburg. O que, afinal, é mais importante para um cientista ter sucesso em sua jornada?

É interessante que em nenhum momento, nem dos prêmios Nobel, nem dos pesquisadores brasileiros, eu ouvi respostas que fizessem referência à capacidade técnica, a alguma genialidade incomum, ou algo assim. É no mínimo interessante perceber nas respostas dos cientistas um distanciamento do racionalismo necessário para o desenvolvimento dos seus projetos.

Pelos corredores da feira, estandes estão montados trazendo os mais variados assuntos, problemas, inquietações… Detalhes esquadrinhados de organização e metodologias para que sejam obtidas respostas razoáveis aos problemas identificados pelos pesquisadores. Resultados, revelações, entendimentos… Não soluções definitivas, mas alguns passos no andar vacilante do conhecimento humano. A paixão não está escrita nos pôsteres, não foi considerada nos formulários, não está explícita numa seção do caderno de campo. Mas pode ser observada nas feições dos pesquisadores, na forma como defendem e relatam sua caminhada, na confiança que demonstram em suas apresentações – em qualquer um dos muitos idiomas presentes por aqui.

Talvez em muitos aspectos não seja necessário ser brilhante para ser cientista. Mas quando me detenho a observar cada jovem que, em sua forma única de ver a realidade, ousou pesquisar, experimentar, errar, tentar, fazer de novo, e, com muito esforço procurou dar sua contribuição para a ciência, percebo que há um brilho comum no olhar. Os jovens reluzem, cintilam. Como disse, em sua sabedoria, a professora Ramona – que também acompanha a delegação brasileira – se dependesse desses jovens, não haveria guerra no mundo. Eu acrescentaria que a ciência jovem pode tornar nosso planeta mais agradável. E de certa forma já o faz, onde ela se encontra.

Equipamentos que melhoram a segurança de procedimentos cirúrgicos, o preparo de refeições que melhora a qualidade de vida de pessoas pobres, a tecnologia que pode diminuir a espera pelo atendimento médico…. Prevalece uma preocupação com o próximo, com o outro, com a sociedade. O cientista que percebe o problema a sua volta como sendo seu, que desenvolve em si a sensibilidade ao sofrimento alheio, pode não tornar-se rico. Mas torna-se nobre. Torna-se uma pessoa de valor. E valor é uma riqueza que não se pode comprar.

Em meu íntimo, torço para que esses jovens mantenham esse mesmo brilho por toda a sua existência. Os menos jovens exercem um papel fundamental nisso. Ao me apresentar como professor de química, ouvi que o meu trabalho é muito importante, muito valioso. “Se não fosse por um professor muito especial que tive no ensino médio, eu talvez não tivesse escolhido a química”. Quem me disse isso foi o PhD Dudley Herschbach, ninguém menos que o prêmio Nobel de Química de 1986. De alma jovem, este já idoso cientista tinha nos olhos o mesmo brilho a que me referi ainda há pouco.

O que tenho visto e ouvido nestes dias reforça minha confiança na contribuição que nós, professores temos a dar. Orientando, discutindo, cobrando, aprendendo e com isso favorecendo o aprendizado do aluno. Não se trata mais de preparar alguém para o mundo. Trata-se de preparar alguém para transformar o mundo.

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